O ano de 2025 aparenta não mostrar nenhum recuo no ritmo de mudanças. A reeleição de Trump promete redefinições políticas, comerciais e geopolíticas, com impactos profundos nas dinâmicas internacionais. A Europa enfrenta uma quase estagnação econômica e tensões geopolíticas crescentes, enquanto a China lida com um modelo de crescimento vulnerável, com queda no consumo, aumento do desemprego e dívida interna altíssima. Tecnologias emergentes, como inteligência artificial, reconfiguram setores, desafiando a competitividade de negócios e profissionais, adicionando riscos e impactos ainda desconhecidos. Tudo isso em meio a desastres climáticos - que requerem esforços coordenados, cada vez mais difíceis - e conflitos bélicos com potencial de envolvimento direto de vários países hoje já indiretamente envolvidos.
Os desafios são imensos para líderes empresariais, conselhos e governos já sobrecarregados, tentando dar sentido a tantas variáveis. Mas o cenário é ainda mais desafiador para um grupo de líderes especiais: aqueles que se esforçam para tornar o mundo algo melhor. Esse contexto é, a princípio, um frustrante obstáculo nessa direção.
Um bom exemplo são os esforços em relação à questão ambiental que enfrentam crescente resistência de governos e empresas, que criticam os custos das regulamentações por impactarem a competitividade. Essa tensão deve crescer com a demanda exponencial de energia por países em rápido desenvolvimento (Índia, Nigéria, Indonésia etc.), e para uso computacional projetado para crescer mais de 10 vezes em uma década, se tornando a segunda maior fonte de emissões globais. Conflitos comerciais e geopolíticos agravam o cenário, já que reforçam a busca por independência energética. Mas não justificam abandonar metas de redução de emissões.
Iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) também enfrentam desafios enormes. Nos EUA mais de 200 universidades revisaram ou encerraram suas estruturas de DEI devido a legislações estaduais. E a proibição de ações afirmativas pela Suprema Corte levou a maioria das grandes empresas a reduzirem programas na área. A expansão desse movimento já é visível ao redor do mundo.
A impressionante velocidade na adaptação das empresas a esse novo contexto revela uma lição crucial: agendas mais “nobres”, como as relacionadas a ESG, são mais moldadas por pressões políticas do que por demandas genuínas de líderes ou do mercado. Fica claro que muitas organizações faziam apenas ajustes superficiais ao contexto político. Quando o contexto muda, eles têm que se adaptar, como muitos especialistas em liderança gostam de afirmar.
Mas precisamos de outro tipo de adaptação, que ajuste o caminho sem perder a visão de impacto. O lado revelador do cenário atual é poder enxergar quem de fato acredita no propósito de suas ações. Um exemplo é o conselho do Costco, quinto maior varejista do mundo, que em vez de recuar, como a maioria das grandes empresas globais, levou às cortes americanas a defesa de suas iniciativas de DEI e trabalha ativamente com acionistas para mantê-las, resistindo à pressão de ativistas contrários.
É ambíguo associar flexibilidade e adaptação com progresso. O que vemos são pessoas abandonando objetivos maiores para simplesmente acompanhar o fluxo, o que nos leva a questionar sobre o tamanho da escassez de liderança ao nosso redor.
Claudio Garcia ensina gestão global e estratégia na Universidade de Nova York